Na última consulta médica, uma quarta-feira, já com 40 semanas e 5 dias, agendamos a indução do parto para a próxima quinta. Mas o plano era tentarmos fazer com que eu entrasse em trabalho de parto espontaneamente com massagens no colo do útero e acupuntura. Começamos a massagem já no mesmo dia e na sexta fiz a sessão de acupuntura e a segunda sessão de massagem do colo. Saí da obstetriz, a Priscila, com o plano de já fazer o shake com óleo de rícino no fim de semana e começar a usar os comprimidos de óleo de prímula. Chegamos em casa, eu e o Anderson, já por volta das 15h, e sentar pra almoçar já foi uma tarefa incômoda. Pensei: foi muito estímulo para um dia só!
Coloquei um filme bem light no Netflix, Amor e Monstros, pra descansar um pouco. Ao longo do filme percebi que a cólica que eu estava sentindo já não estava constante, tinham intervalos de descanso. Baixei o aplicativo de contrações e comecei a anotar. De fato, as dores começavam a apresentar um padrão de intervalos de 6 e 7 minutos. O Anderson estava trabalhando no escritório, fui até ele e comentei sobre a suspeita de estar em trabalho de parto e avisando que ia tomar um banho quente, que era a recomendação da Carla, nossa doula. Caso a dor não passasse, teríamos a confirmação.
As dores não pararam e nem perderam o ritmo, o plano deu certo! Apesar de as dores não estarem extremamente intensas eu já não sentia muita fome, comi só um pedaço de pizza à noite, meu corpo já estava totalmente conectado com aquele momento.
Por volta das 22h deitei pra tentar dormir um pouco, mas entre 23h e 24h senti que as dores começaram a se intensificar um pouco e ficar deitada já não era uma posição confortável. Por inexperiência, mãe de primeira viagem, nesse momento eu me desesperei um pouco e pedi pro Anderson ligar pra Carla. Minha mãe teve o primeiro parto normal muito rápido e aquela intensificação da dor me deixou apreensiva. A Carla nos tranquilizou, se colocou à disposição e sugeriu que tentássemos descansar pois pela descrição ainda estávamos na primeira fase do trabalho de parto.
Fiz o Anderson ficar cronometrando as contrações noite adentro até ele dormir hahahahaha. Agora vejo que não era necessário, mas de novo reações da inexperiência. Por volta das 2h30 da manhã, após uma contração mais forte, observei líquido junto com sangue e liguei pra doutora Andrea pois estava com receio de a bolsa de ter rompido, fato que com uma das bactérias positivas seria motivo de eu precisar tomar antibiótico pra evitar a contaminação da bebê. A Andrea me tranquilizou sinalizando que poderia ser a bolsa sim, mas que tínhamos tempo para ir ao hospital pela manhã.
As 6h atualizamos o status a pedido da Andrea e começamos a nos preparar para ir para o hospital. A Carla e a Kátia, nossa fotógrafa, vieram até em casa para nos acompanhar e foi um detalhe simples, mas que fez muita diferença, pois estávamos atrapalhados a essa altura. Fui até o hospital já mais em silêncio no carro e ao chegar uma cena ficou marcada pra mim e para o Anderson, eu era a única mulher em trabalho de parto dando entrada na recepção. Deduzimos depois que as demais gestantes ali provavelmente estavam com o parto agendado, confirmando pra mim o quanto a cesárea é aderida no Brasil.
Cheguei ao hospital com 5 cm de dilatação por volta das 8h30 e com a sinalização de que o colo estava mole e o processo evoluindo bem. Pensei: ótimo, vai ser relativamente rápido! O rápido na minha cabeça era que a Manuela nascesse ainda até o início da tarde. Mas chegando na sala de parto comecei a sentir muito frio, aliás minha meia de inverno fez sucesso com a equipe e os soluços pós contrações foram a marca registrada do parto rsrs. Precisei pedir um cobertor e percebemos que as contrações foram perdendo um pouco o ritmo, aumentando os intervalos e a dilatação deu uma estacionada.
A Priscila, nossa obstetriz, e a Carla sugeriram diversas técnicas para estimular a evolução do parto, ora as contrações ritmavam, ora espaçavam… Já no período da tarde a Pri entrou com ocitocina e fui pra banheira pra tentar relaxar, o Anderson tirou um cochilo, mas eu já estava ficando exausta depois de tantas horas com contrações. Falei pela primeira vez com a Carla sobre o desejo de tomar anestesia e saindo da banheira a Pri ofereceu novamente e sim, eu precisava… comemorei mais a chegada da Márcia anestesista do que a da Andrea, a obstetra, na sala de parto hahaha. Apesar do medo de anestesia, tanto a condução da equipe comigo quanto o rumo do parto após a anestesia me fazem lembrar do quanto essa decisão valeu a pena.
Tirei um cochilo pós anestesia e ao despertar, a doutora Andrea estava bordando um presente lindo pra Manuela na sala de parto (essa cena traduz pra mim a tranquilidade que a Andrea me passou durante toda a gestação). Levantei e fui estimulada a fazer alguns exercícios e a dançar pra ajudar na evolução do parto. E gente… eu, Anderson, Carla e Katia dançando Kuduro e Macarena no meio do parto será inesquecível hahaha, o clima ali era outro pra mim.
Já era noite, a doutora Andrea me examinou e após essa malhação eu estava com 7 pra 8 cm de dilatação… ela observou que a posição da cabeça da Manu não era a mais fácil pra caminharmos pro expulsivo, fez uma movimentação na cabecinha dela dentro da barriga (sim, isso é possível) e já partimos pra começar a fazer força pra estimular a Manu encaixar e nascer. Daí pra frente eu já não tinha mais nenhuma noção do tempo e tudo me pareceu ter sido muito rápido. Fui pra banqueta fazer força e começou a dar certo. Entre a banqueta e a posição de cócoras, quando a Manu começou a coroar, foi sugerido que eu deitasse de lado pra Manu terminar de nascer e assim evitar laceração do períneo, e lá fomos nós. E já nessa reta final aquela equipe, todas já exaustas, estavam ali comigo, conectadas, me auxiliando a identificar as contrações, oferecendo suporte pra fazer força, me guiando e incentivando.
A partir daí, com poucas forças a Manu estava nos meus braços. Ela nasceu as 23h04, com 41 semanas e 1 dia e eu já não sabia mais quanto tempo tudo tinha durado, já não lembrava da exaustão do momento da anestesia, meu tempo parou ali com ela olhando nos meus olhos… Foi lindo o momento em que nos olhamos, ver o Anderson emocionado ao ver a Manu e abraçando a nossa doula em agradecimento por toda a força e extremamente simbólico vê-lo cortando o cordão umbilical da nossa filha, separando-a da placenta da mãe, papel que na prática será mesmo o do pai na linha do tempo.
Como eu disse a elas, o trabalho dessas mulheres que me apoiaram durante a gestação e parto, fisioterapeuta, acupunturista, doula, obstetriz e obstetra, é lindo demais e eu tive muita sorte em tê-las ao meu lado nessa experiência tão singular que é trazer uma vida ao mundo. Pra mim, a experiência de humanizar o parto foi muito além dos benefícios para a bebê, me ajudou a confiar que meu corpo sabe o que fazer para parir, que a minha bebê sabia o que fazer pra nascer e me acolheu, me tranquilizou e inseriu o Anderson nesse processo para que estivesse super preparado para ser meu porto seguro ao longo do parto e no pós-parto. Além de me ensinar que é possível sentir dor sem sofrer e sorrir entre uma contração e outra e que planejar o parto é muito saudável, mas tanto quanto é estar aberta a alternativas pois não temos controle sobre o desenrolar do parto; eu fiquei resistente a anestesia durante toda a gravidez e foi o que me ajudou a dar conta até o final… não ter controle de nada e aprender a se a adaptar são as primeiras lições da maternidade, que já começam no parto.