Nossa Sarah nasceu naturalmente na manhã do último sábado de agosto de 2021, com 37 semanas e 5 dias, em um parto rápido para uma primeira gestação (aproximadamente 9 horas desde as primeiras contrações). Mas, esse relato de parto começa bem antes de 2h30 da madrugada quando acordei sentindo umas cólicas esquisitas. Esse relato de parto de inicia em 2013, quando conhecemos a Bia Kerselling em um grupo de estudos sobre a primeira infância. Nos encantamos tanto pelo modo como a Bia falava sobre os processos do pré-natal, do parto e do pós-parto que já dizíamos que se tivéssemos um bebê no futuro, ela iria cuidar da gente.
O futuro se fez presente e no primeiro domingo de janeiro de 2021 descobrimos nossa gestação. Logo mandamos mensagem para a Bia e para a Desirée contando a novidade. A Desi foi uma indicação certeira da Bia para também cuidar da gente durante esse processo. A cada consulta de pré-natal com cada uma delas, íamos esclarecendo dúvidas, fortalecendo vínculos e entendendo mais como queríamos receber nossa neném. Queríamos um ambiente calmo, acolhedor, repleto de cuidados e respeitoso com nosso tempo.
Já no segundo trimestre de gestação, por sugestão da Desi, conhecemos a Carla (nossa doula) e a Fran (nossa também enfermeira obstétrica), duas mulheres maravilhosas para completar a equipe que estaria conosco até o fim. Estávamos muito seguros e felizes de termos cada uma conosco!
Até que chegou a última 6f de agosto, meu último dia de trabalho. Brinco que combinei com a Sarah para esperar a mamãe terminar de trabalhar para ela poder vir, mas pensava que ainda teria uns dias de descanso e espera. Mas ela foi determinada a cumprir nosso combinado! Rs… Não era nosso costume, mas neste dia fomos dormir cedo. Às 2h30 comecei a sentir umas cólicas estranhas, um pouco fortes e ritmadas. Na hora lembrei da Desi e da Carla me dizendo: “você vai saber quando começar o trabalho de parto”. E de fato naquele momento comecei a desconfiar que era a nossa pequena anunciando que queria sair do forninho.
Permaneci deitada na cama, marcando as contrações no aplicativo e dormindo nos intervalos. Até que às 4h30 da manhã, os intervalos foram ficando menores e as contrações mais fortes. Acordei meu marido e mandamos mensagem no grupo da nossa equipe. Fui para o chuveiro para ver se as contrações paravam ou diminuíam e, para nossa surpresa, o processo continuou. Fui para a sala, fiquei apoiada no sofá, cochilando nos intervalos das contrações e meu marido foi fazer café da manhã para a gente. Comi metade de uma panqueca sem acreditar no que estava mesmo acontecendo. Estávamos felizes e um tanto calmos, preparados para viver o tempo que fosse preciso até a Sarah chegar.
No começo da manhã as contrações foram ficando mais fortes e doloridas. Achamos melhor a Carla vir nos acompanhar e a Fran examinar. Por volta das 9h, o tampão saiu e logo em seguida elas chegaram em casa. A Fran me examinou e para nossa surpresa já estávamos de 6 para 7 cm de dilatação. Nesse momento meu coração quase parou! Como assim? Pelo meu estado e nível de dor que sentia, pensava que o trabalho de parto estava apenas começando, 2 ou 3 cm no máximo… A Carla me ajudou a me vestir e fomos para o hospital.
No trajeto, foi bem como ela dizia nas consultas pré-natal, um incômodo sem tamanho! Não tinha posição agradável para ficar no carro. Ela, do meu lado no banco traseiro, respirava junto comigo me lembrando de acalmar a respiração durante as contrações. Quando passavam, conseguia ver a chuva lá fora e o trânsito de SP.
Assim que chegamos no São Luiz, a Desi já estava me esperando de braços abertos. Nunca vou me esquecer do abraço apertado que ela me deu assim que saí do carro… Me colocaram na maca e fomos direto para admissão. Exame de covid, algumas perguntas que não lembro, exame de toque e 8 cm! Logo me levaram para a sala delivery. Lá, a Fran já estava me esperando com a banheira enchendo. Que alegria! Nosso desejo era que, se fosse possível, a Sarah nascesse na água e tudo estava acontecendo como imaginávamos; ou até melhor!
A Fran me abraçou e até hoje lembro do cheirinho delicioso de laranja que estava nos punhos dela e na sala. Fiquei na bola de pilates com a Desi segurando minha mão e a Fran atrás de mim massageando minha lombar. Após alguns minutos, a Carla e meu marido chegaram e finalmente pude entrar na banheira. Que alívio! Me lembro da água quentinha, do meu marido do lado de fora segurando minha mão, de escutar uma playlist que ele colocou e de balançar no ritmo da música. Lembro das toalhinhas frias na testa que a Carla colocava após cada contração. Lembro da Fran e da Desi presentes, cuidando da gente, mas sem apressar nada. Tudo indo no nosso tempo!
Uma contração mais forte e bolsa estourou. Uns minutos depois e alguém me disse: “Ka, se sentir vontade de fazer força, pode fazer”. E então, comecei a fazer uma força que nem sei de onde vinha ou mesmo que era capaz. Já não sentia mais dor, apenas vontade de fazer força e a cada força, uma sensação de que iria explodir ficava ainda mais forte. Nessa hora tive medo, pensei que não iria mais conseguir e pedi ajuda. Meu marido do meu lado, a Carla do outro respirando junto comigo, a Desi e a Fran falando o momento de fazer força e para não desistir que ela já estava quase nascendo. Uma última força prolongada e a Sarah nasceu! Na água, calminha, direto para meus braços. Olhando atentamente tudo a sua volta, começou a chorar devagarinho e depois, com toda força que podia.
Saímos juntas da banheira e ficamos grudadinhas na cama. Enquanto namorava cada pedacinho dela, a placenta nasceu. Depois, a Fran nos ajudou a mamar e assim ficamos por um tempo mágico e incontável. A Desi me examinou e nada de lacerações. Tudo maravilhoso, uma fome louca tomou conta de mim. Em mais um gesto de carinho inesquecível, a Carla me deu sopa na boca para não precisar tirar a Sarah do meu colo. O cordão já não pulsava mais e meu marido o cortou. Enfim, inteiramente separadas. Enfim, nós três juntos!
Hoje, 3 meses depois dessa experiência arrebatadora, ainda é difícil colocar em palavras o que vivemos. São muitos hormônios, muita entrega, muita potência, muita intensidade, muito amor. As dores eu já esqueci como são, mas ficaram na memória os recortes de um nascer repleto de afeto e de cuidado que tivemos a sorte de viver.
Equipe Núcleo Cuidar
Obstetra: Desirée Encinas
Enf. Obstétrica: Beatriz Kerselling e Françoise Novaes
Doula: Carla Dieguez