Escrevo esse relato 32 dias após o momento mais incrível e transformador da minha vida, o parto do Henrique. Antes de falar do parto em si, queria contar um pouquinho do que nos levou aquele momento. Primeiramente, descobrimos a gestação com 21 semanas. E, se você estiver se perguntando, como é possível? Calma, vou explicar. Tenho ovário policístico e a minha menstruação é super irregular. Além disso, tenho gastrite, o que me fez acreditar que todos os enjoos eram consequência disso. Fiz o teste de gravidez no início dos sintomas e havia dado negativo. Com crescimento do abdômen, resolvi refazer o teste e para a minha surpresa o resultado foi positivo.
Para aderir a uma rotina mais saudável, pesquisei na internet locais que ofereciam aulas de yoga e encontrei a Casa Moara, que, além das aulas de yoga, ministrava palestras informativas totalmente gratuitas. Logo, arrastei meu marido para assistir a uma dessas palestras e foi lá que conhecemos a minha doula Carla Dieguez. A Carla foi a decisão mais assertiva que fizemos. Com um turbilhão de informações sobre parto, equipe e etc., ela foi nos guiando e nos indicando excelentes profissionais para nos proporcionar o parto respeitoso que eu tanto almejava. Foi assim que encontramos o Coletivo Nascer, uma equipe coordenada pela Ana Cris, que nos acolheu com 30 semanas de gestação e que viabilizou o nosso sonho de ter um parto humanizado e acessível.
No dia 25 de abril, na minha DPP (data provável do parto), finalizei os preparativos para a chegada do bebe, arrumei toda a casa, o quartinho dele e a minha mala para a maternidade. Ao anoitecer senti algumas cólicas, semelhantes às menstruais, que iam e vinham. Mandei mensagem para a Carla, que me sugeriu um banho bem quentinho e demorado para ver se as contrações ritmavam, mas elas continuaram sem ritmo, e fomos dormir. Passei a noite toda com esse incômodo. No dia 26 de abril, às 7 horas da manhã, acordei com um sangramento e ao contatar a Paula, obstetriz responsável pelas mamães de abril, fomos orientados a ir ao hospital para verificar se estava tudo bem com o bebê. Tomamos café, colocamos as malas no carro e fomos para o hospital. No exame de toque, eu estava com 3 cm de dilatação, e na cardiotoco estava tudo bem, mas por conta do sangramento fomos orientados a ficar na internação. Fiquei preocupada, as coisas estavam saindo um pouco da programação (ficar em casa e esperar a dilatação de 7cm), mas eu tinha total confiança na nossa equipe e lá fomos nós. Como as contrações não ritmavam, às 18h, fizemos uma sessão de acupuntura com a maravilhosa Isa e após 30 min, elas começaram a se intensificar (e não é que acupuntura funciona mesmo). Acreditamos que naquele momento o Henrique viria, avisamos a Carla e a Juliana (obstetriz de plantão daquela noite), que chegaram super rápido, mas as contrações foram cessando até pararem. A Carla e a Ju acabaram indo embora e pediram para aproveitarmos aquele tempo para descansar.
No dia seguinte, 27 de abril, a Paula e a Dra Olivia me explicaram que esse processo ajudou o colo do útero a se preparar para o parto. Às 11h, a Dra Olivia fez um descolamento do colo e colocou um comprimido de misoprostol, conversamos bastante sobre o momento e as opções e ficou combinado que, se o comprimido não funcionasse, no dia seguinte faríamos a indução com ocitocina, mas funcionou. Às 18h, senti as contrações voltarem, cada vez mais fortes, bem parecidas com as que tive após a acupuntura. Me alimentei, caminhei e fui para o banho com a bola de pilates. No fundo eu não estava acreditando que a hora estava chegando. A essa altura a dor migrava do pé da barriga para as costas. A Dra Glaucia chegou no quarto, lá pelas 23h, acompanhou algumas contrações e fez o exame de toque, eu estava com 6cm para 7 cm (que felicidade!).
No 28 de abril, à 1h, avisamos a Carla que estávamos entrando na fase ativa do parto e nos preparamos para subir para a sala de parto. A Paula, que incrivelmente estava de plantão bem naquela noite, me recebeu e começou a me preparar. Logo, a Dra.Iara também chegou. E, a partir desse momento, vivi tudo aquilo que eu li em tantos relatos de parto. Fiquei alguns minutos sozinha no quarto, enquanto meu marido e a Carla se preparavam, tentei ficar calma e aguardar a chegada deles. Assim que eles chegaram fomos para o chuveiro, ficamos da 1h até as 4h ali, e que delícia aquela água quente, me lembro de sentir um enorme cansaço, mas não da dor. Depois daquele período no chuveiro, pedi para voltar para o quarto, na esperança de deitar e descansar, mas não foi bem assim rsrs.
Entrei na fase expulsiva. Tentei todas as posições que me sugeriram: quatro apoios na cama, deitada de lado, de cócoras e de pé. Lembro de sentir uma massagem maravilhosa feita pela Carla na minha lombar, uma sensação boa em meio a dor. Além dos melzinhos e suco, que não poderiam vir em melhor hora. De todo o processo esse com certeza foi o mais exaustivo. Nesse período a Dra Lara trocou o plantão com a Dra Glaucia. Sentei na banqueta para o empurros finais, com o Kayke me abraçando e segurando as minhas mãos; entre uma contração e outra, olhava para o teto estrelado da sala de parto procurando forças para seguir. A Paula me ajudava com a respiração e palavras de força, falando que o Henrique já estava chegando, toquei a cabecinha dele e senti seu cabelinho. O Kayke sentou-se no chão, estava chegando a hora de segurar o Henrique, a Carla se posicionou atrás de mim. Quando as forças estavam chegando ao fim, senti o que tanto tinha ouvido falar, o círculo de fogo, nesse momento usei toda a força que eu ainda tinha e a que eu nem imaginava que tinha. Foi quando senti a cabecinha dele sair, na próxima contração com a ajuda da Dra Glaucia senti todo o corpinho saindo rapidamente. E com os olhos fechados recebi meu amor nos meus braços.
O Henrique nasceu às 7:59h com 3.740kg e 51cm. Depois disso, aquele alívio, deitamos na cama e ficamos ali, por uma hora, nos olhando e nos conectando. Logo, a placenta saiu, com o auxílio da Silvia, uma sensação um pouco desconfortável. Ela me mostrou a placenta, me explicando sua estrutura e onde o Henrique ficava. Toda equipe transbordando amor e felicidade em nós. O papai cortou o cordão quando acabou de pulsar, e todos os demais cuidados foram feitos no meu colo.
Gratidão. É a palavra com que resumi toda essa experiência. Agradeço imensamente a Deus por ter me dado a oportunidade de ser mãe e parir da forma mais humana possível. Agradeço a Carla, minha doula querida, por todo o suporte, atenção, informação, carinho e cuidado, além de registrar aquele momento com fotos e vídeos que eu levarei para sempre. Agradeço a toda equipe que esteve envolvida na internação e no parto, todas foram muito gentis e humanas, nos explicando cada passo que seria tomado, nos tornando os protagonistas da nossa história. Um carinho especial pela Paula e a Dra. Gláucia, vocês foram demais. E ao meu esposo, amigo, companheiro, que esteve comigo em cada minuto, segurando a minha mão, falando palavras reconfortantes e me dando a segurança de que não importa o que acontecesse, ele estaria ali.