No último domingo terminou mais uma edição do Siaparto – V Simpósio Internacional de Assistência ao Parto, aqui em São Paulo. Das cinco edições, participei de quatro, e sempre são dias de muito aprendizado e troca de experiências. Acesso a informações embasadas em evidências científicas (e não em “achismos” ou opiniões pessoais) para proporcionar às mulheres autonomia e protagonismo sobre seus próprios corpos.
Uma das palestras que assisti foi sobre as novas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o trabalho de parto.
Para as equipes de parto humanizado, podem parecer informações óbvias, mas é super importante um organismo internacional como a OMS colocar isso no papel.
Vou listar aqui minhas anotações:
- cuidados ao longo do trabalho de parto e nascimento
– cuidado respeitoso: livre de maus tratos, com estímulo à autonomia, suporte contínuo
– comunicação efetiva
– acompanhante de escolha: há hospitais que não respeitam, mas é lei no Brasil!
– continuidade de cuidado
- Primeiro período (dilatação do colo do útero de 0 a 10 cm)
– para a OMS, a fase latente vai até 5cm de dilatação (de acordo com Zhang, consideramos a partir de 6cm). Nesta fase, sem limite de tempo! Considerar bem-estar materno e avaliação da vitalidade fetal.
– a dilatação de 1cm/hora não é realista e não é recomendada para uma progressão normal de trabalho de parto. Uma dilatação mais lenta não deve ser uma indicação de rotina para intervenções no sentido de acelerar o parto!
– a avaliação da dilatação na internação hospitalar é recomendada para evitar internação precoce.
– a cardiotocografia é dispensável na internação em mulheres de baixo risco e trabalho de parto espontâneo! Deve-se usar a ausculta intermitente para avaliar a vitalidade do bebê.
– a avaliação da dilatação deve ser feita a cada 4 horas, com exames de toque por um mínimo de profissionais. Se a evolução do trabalho de parto é fisiológica, por que tocar para intervir antes da hora?
– é recomendado que a mulher possa comer e beber durante o trabalho de parto (há hospitais que não permitem…).
– a mulher deve ser encorajada a se movimentar e adotar posições verticais (fazemos exatamente o contrário na imensa maioria dos hospitais!).
– deve-se dispor de métodos não farmacológicos de analgesia para alívio da dor.
– oferta de analgesia farmacológica, se necessário.
- Segundo período (expulsivo)
– a dilatação completa não basta para marcar o início do segundo período do trabalho de parto. Deve-se aguardar a presença de puxos (involuntários, ok, e não o médico mandando a mulher empurrar sem vontade) para começar a contar o tempo do expulsivo!
– aguardar até 3 horas de expulsivo em primíparas (primeiro parto) e até 2 horas em multíparas (dois ou mais partos). Com analgesia e boa vitalidade fetal pode-se permitir mais tempo.
– a mulher deve ser encorajada a adotar posições de sua escolha, incluindo posições verticais.
– o uso liberal ou rotineiro da episiotomia não é recomendado.
- Terceiro período (saída da placenta)
– profilaxia (prevenção) da hemorragia puerperal de forma rotineira para todos os partos, com aplicação de ocitocina intramuscular como primeira opção.
– clampeamento oportuno do cordão umbilical.
– tração contínua e controlada do cordão somente com equipe experiente.
- Cuidados maternos
– vigilância do tônus uterino.
– monitorar sinais vitais e sangramento por 24 horas.
- Cuidados com o recém-nascido
– contato pele a pele do recém-nascido com a mãe na primeira hora de vida para prevenir hipotermia e estimular a amamentação.
– aplicação de vitamina K intramuscular após 1h de nascimento em contato pele a pele.
– retardar primeiro banho do bebê em 24 horas (pelo menos esperar 6 horas).
Fontes: palestra do médico obstetra Caio Prado no Siaparto 2018 e recomendações da OMS (documento completo).