O Francisco nasceu no dia 03 de setembro, dia do biólogo – o que para mim tem um grande significado já que eu sou bióloga. Naquele dia acordei com uma cólica fraquinha. Como eu tive alguns alarmes falsos não me empolguei muito… Mas algo estava diferente. Eu estava inquieta. Passei a manhã toda andando de um lado para o outro procurando alguma coisa para fazer. Chegou a hora do almoço, meu marido João e meu filho mais velho (João Pedro) vieram almoçar comigo. Eu comi feito um leão que não vê comida há dias. A colicazinha não passava e eu comecei a achar que poderia ser que o Francisco resolvesse nascer naquele dia.
Ou melhor, que o bebê resolvesse nascer, porque até aquele momento eu não sabia se era um menino ou uma menina. Escolhi não saber o sexo.
Avisei meu marido que era melhor ele trabalhar em casa. Resolvi ficar um pouco sentada na bola e meu marido insistia em contar as contrações. Eu não estava com a menor vontade de fazer isso. Estava apenas a fim de curtir um pouquinho mais o João Pedro e ficar na bola. Por insistência do meu marido liguei para a Carla Dieguez, nossa doula, dizendo que estava com um pouco de contração, mas nada muito forte. Ela me disse que estava indo ao cabelereiro, mas que se precisasse ela já iria direto para a minha casa. Eu falei que estava ótima e que ela podia ir ao cabelereiro que eu iria dando notícias.
Lembrei do conselho da Ivanilde (parteira) de descansar bastante e resolvi ir para o meu quarto dormir um pouco. Meu filho mais velho já sabia que o irmão chegaria naquele dia e me pediu para ficar junto. Ao contrário do que eu sempre imaginei, naquela hora eu queria ficar um pouco sozinha e pedi para que ele fosse brincar na sala. Não consegui dormir. Assim que eu deitei as contrações aumentaram. Liguei novamente para a Carla dizendo que as contrações tinham ritmado e que agora não era alarme falso. Ela estava pintando o cabelo e novamente disse que largaria tudo e iria para minha casa se eu precisasse. Eu disse que não estava com muita dor e que estava tranquila, que ela podia terminar de pintar o cabelo. Avisei a Márcia (parteira) e também a madrinha do meu filho mais velho, que ficaria com ele durante o trabalho de parto.
Depois dos telefonemas as contrações começaram a aumentar. Eu fiquei na janela olhando algumas árvores no quintal. Quando as contrações chegavam eu me acocorava, vocalizava (como a Carla havia ensinado nos encontros) e meu marido fazia a massagem nas costas (isso também foi a Carla que ensinou). No intervalo das contrações eu pedi para o João procurar na internet uma playlist de parto natural. Sim, no segundo filho a gente não tem tempo de arrumar tudo… Eu confesso. Não escolhi as músicas para o parto!!! O João achou uma playlist em que a música “Reconhecimento” da Isadora Canto tocava em looping. A cada contração eu mentalizava que meu corpo estava se abrindo para a passagem do bebê.
A luz começou a me incomodar e lembrei que a Carla havia dito que o parto funciona melhor na penumbra. Perdi a minha vista privilegiada das árvores, mas realmente a penumbra me deu mais conforto. Não sei quanto tempo passou, mas a minha lembrança desse momento foi de muita calma, tranquilidade, suavidade e aconchego.
Quando a Ivanilde chegou, me pediu para fazer um exame de toque. Eu não queria muito. Eu ficaria um pouco angustiada se estivesse com poucos centímetros de dilatação. Ela pediu para olhar uma linha no bumbum para tentar ver a dilatação (não sei explicar bem o que é isso…). Mas não deu certo. Ela precisava mesmo fazer o toque. Como eu não tinha sentido muita dor, eu achava que teria no máximo 4 cm de dilatação. Assim, fizemos um combinado: eu deixaria que a Ivanilde fizesse o toque, mas ela só me contaria a dilatação se eu estivesse com mais de 9 cm. Ela terminou o toque e disse: você está com 9 cm de dilatação. Eu comecei a rir e a gritar: 9!!!!!!! A Carla e a Márcia chegaram neste momento.
Os 9 cm de dilatação eram um marco para mim. No meu primeiro parto tomei anestesia com 9cm de dilatação por estar muito cansada e com bastante dor. Então, chegar a 9cm de dilatação quase sem dor era maravilhoso!!! Também comemorei o fato do parto ser em casa. Meu primeiro parto foi hospitalar e o trajeto de carro até o hospital foi muito desconfortável. Além disso, quando entrei na admissão minhas contrações pararam e só retornaram depois das agulhinhas mágicas da Priscila, minha parteira no primeiro filho.
Depois de tanta ocitocina liberada na comemoração dos 9cm de dilatação, tive uma contração super forte. Senti alguma coisa saindo e comecei a gritar que o bebê estava nascendo e ia cair no chão (rs). Era só a bolsa se rompendo. Mal sabia eu que o bebê ainda daria um pouco mais de trabalho…
Comecei a ter vontade de fazer força e uma banqueta de parto surgiu na minha frente. Percebi que o bebê ia nascer logo porque todos tomaram as suas posições. Eu na banqueta, meu marido atrás de mim, sentado na cama, a Carla segurando minha mão direita e fazendo massagem durante as contrações, a Ivanilde segurando a minha mão esquerda e a Márcia sentada na minha frente. Sim, a minha parteira sentou no chão para amparar o meu bebê!!!!!
Naquele momento me dei conta de que eu tinha entrado em uma zona desconhecida. No meu primeiro parto, eu passei pelo expulsivo anestesiada e, portanto, aquela parte do parto me assustava.
O expulsivo foi muito desafiador para mim. Eu tive muito medo e não consegui mais pensar que o meu corpo estava se abrindo. Eu não sabia como era essa parte do parto e não sabia se eu daria conta de cuidar de dois filhos… Parto e medo não combinam… Desconcentrei, não sabia mais a hora de fazer força…Várias vezes me foi sugerido que eu fosse para a banheira, mas eu não levantaria daquela banqueta por nada no mundo! Em determinado momento pensei no meu filho mais velho. Eu já tinha perdido a noção do tempo. Não sabia se a babá já tinha ido embora, se a madrinha dele já havia chegado… não sabia se ele estava bem. A Carla resolveu descer e checar como estavam as coisas. A Ivanilde assumiu o posto de massagista durante as contrações. A Carla voltou com a notícia de que o João Pedro estava bem, brincando de massinha com a Dinda. Beleza, uma preocupação a menos. Acho que já dava para terminar de parir. Mas eu ainda estava nervosa. Não sabia a hora de fazer força, me cansava… E fiz o seguinte pedido: posso deixar para parir amanhã? Era claro que não dava, o bebê precisava nascer!!! A Ivanilde percebeu que eu estava nervosa e me perguntou se ela poderia cantar. Ela cantou durante todo o final do trabalho de parto a música da Isadora Canto que eu estava ouvindo em looping (coincidência). A Carla se lembrou de me dizer: Gi, só falta mais um pouquinho para você saber se é o Francisco ou a Isabel que vem aí. Eu respondi: é o Francisco, eu sei!!!
Juntei as forças que faltavam e comecei a trabalhar para colocar aquele menino no mundo. A Carla e a Ivanilde seguraram minha perna, fiz força mais algumas vezes, dei alguns gritos e nasceu o Francisco. Impetuoso, nasceu de uma só vez. E veio para o meu colo, todo quentinho, meladinho, com os olhos bem abertos, me olhando fundo e chorando alto. Quanta emoção naquele momento. Reconhecer aquele ser que me era tão íntimo, mas que eu nunca tinha visto, nem tocado.
Logo o meu filho mais velho, a Dinda e a babá (que não teve coragem de ir embora) vieram ver o mais novo integrante da família. Ficamos ali grudadinhos. João Pedro fez carinho no irmão, tirou algumas dúvidas sobre como tinha sido o parto e resolveu ir dormir. Francisco mamou um pouquinho. Fui para cama e como tive um pouco de laceração a Ivanilde fez a sutura. Essa foi uma parte bem chata. Mas passei por ela, vendo o Francisco ser pesado (3,760Kg) e medido (51cm) pela Márcia, com todo o carinho do mundo. Depois da sutura tomei um banho rápido e comi uma sopinha. As pessoas foram indo embora e, naquele dia, dormimos eu, o João e o Francisco na mesma cama, aconchegados. Com a sensação de ter colocado um filho no mundo da maneira mais amorosa e respeitosa possível; como todo ser humano deveria poder nascer.
Obrigada, João, por dividir comigo a maior aventura da minha vida: ter filhos. Obrigada por me apoiar em todas as minhas decisões. Sei que no início muitas delas pareceram loucuras.
Minha eterna gratidão a toda a equipe do parto: Carla, Márcia e Ivanilde. Vocês me apoiaram e desempenharam suas profissões com muita competência, amor e respeito. Foram fundamentais antes, durante e depois do parto.
Meu profundo agradecimento à Dinda e Bete que cuidaram do João Pedro para que eu pudesse estar entregue ao Francisco, durante o parto.
PS.: Carla, você sabe que eu não tive doula no meu primeiro parto. Por isso estou à vontade para dizer que parir com doula é muuuuito melhor!!!!