Consulta sim, consulta não, eu perguntava ao obstetra como eu saberia a hora certa do parto e ele, na maior serenidade, sempre respondia: você saberá. Ele tinha razão! Aquela noite tinha sido diferente, agitada como nos últimos dias, eu sem posição por conta do barrigão, mas com sensações novas.
7:00 Pela manhã comecei a sentir algumas dores nas costas, eram contrações, mas não estavam ritmadas. Eu estava bem sensível, emocionada, chorosa. Meu marido se propôs a ficar em casa comigo, mas embora internamente eu quisesse, achei melhor deixá-lo ir ao trabalho. Podia ser só mais um dia de sensações diferentes. No final da tarde tínhamos consulta com o obstetra e nos encontraríamos. Passei o dia com dores, que iam e vinham. Em algumas delas eu precisava me concentrar, mas segui a vida: fiz unha, depilação, almocei, conversei com minha doula Carla Dieguez e fui ao médico.
16:00 Resultado da consulta:
– Colo esvaecido, médio para fino, ligeiramente posteriorizado;
– Alta e fixa.
– Grandes chances de nascer no dia seguinte.
Resultado da consulta pra mim:
– Ansiedade: me preparei psicologicamente para 40 semanas de gestação, e já estava com 40 semanas e 1 dia! Rs
Saímos da consulta e fomos para casa. No caminho as contratações já causavam um incômodo maior e exigiam minha atenção, mas continuavam descompassadas.
17:30 Decidi passar na Igreja. Eu precisava me centrar e encontrar equilíbrio para lidar com o desconhecido.
18:30 Já em casa, decidi tomar um banho e comer. O banho fluiu bem, apesar das contrações que iam e vinham. Comer já não foi possível, porque as dores na lombar se intensificaram e havia uma forte pressão no canal vaginal.
Comecei a lembrar de tudo que ouvi nos cursos e sim, minha hora estava se aproximando.
20:30 Fui tomar banho novamente e nesse momento já não era mais possível falar. Fiquei ajoelhada, deixando a água cair nas costas, mas não tinha alívio. Quando a contração vinha eu só conseguia senti-la. Sim, nossa filha estava chegando.
Nesse meio tempo, Fábio já tinha acionado nossa doula Carla, que muito rapidamente chegou em casa e já falava com meu obstetra. Meu marido acompanhava tudo e tê-lo por perto me trazia segurança.
22:00 As contrações estavam ritmadas, era hora de ir ao hospital.
O trajeto foi horrível. Muito sensível, eu senti todas as ondulações da rua. Estava de olhos fechados e me perguntava internamente: que caminho o Fábio está fazendo? Era o de sempre, eu é que estava diferente. rs
22:30 Chegamos ao hospital. Lembro do segurança me trazendo a cadeira de rodas, mas eu não queria sentar. Foi bom ter a doula ao lado pra fazer valer meus interesses.
Entro pela emergência e vou fazer os exames de praxe do hospital. A enfermeira fazendo uma série de perguntas, e eu tentando responder entre uma contração e outra, mas meio sem entender tudo aquilo. Em pensamento, questionava: pra que tanta pergunta, ela não está vendo que eu estou parindo?
A médica do hospital me examina e eu escuto: ela está com 9cm de dilatação. Penso comigo: não há dúvidas, nossa filha está a caminho. Faço uma pequena oração junto a meu marido e seguimos para a sala de parto.
As dores se intensificam e o tempo entre uma contração e outra diminui. Sim, parir dói. Nesses momentos eu gritava, e ficava pensando numa frase da minha mãe: quanto mais a mulher grita, pior é o atendimento no hospital. Internamente me questionava: como parir sem gritar? Não sei, porque eu decidi gritar!
Aliás, foi assim por mais 3h! As contrações vinham, eu gritava e também brigava com meus pensamentos: devia ter feito isso, faltou fazer aquilo, bla bla bla. Era tipo um grilo falante interno que tirava minha atenção e impedia que eu me entregasse completamente aquele momento.
Durante as dores, eu era amparada por meu marido, doula e obstetra. Mas era no grito que encontrava alívio.
Sim, gritei, como se não houvesse amanhã (meu marido e médico disseram depois que eu gritei bem mais do que eu imaginava rs). Mas o grito ainda era a minha relação com o mundo e não me conectava com o mais importante: eu mesma.
Depois de algumas horas, sendo assistida da melhor forma possível, ouço a seguinte frase: você precisa fazer força pra dentro e pra baixo. Era isso: precisava me desligar do mundo, entrar na tal da partolândia que tanto ouvi nos cursos.
Até que num determinado momento, já exausta, sem posição, eu, sem pensar, finalmente, entendi que era o momento de nossa filha vir ao mundo.
Em silêncio, focada e determinada em fazer acontecer, em total conexão com o meu instinto mais primitivo, me dirigi à barra de suporte e fiquei de cócoras . Veio uma contração, senti o canal vaginal bem aberto. Minha doula colocou um espelho na minha frente, o que me permitiu visualizar a cabeça da bebê. Maravilhada com o que via, falei bem alto: segura se não ela vai cair. Mais uma contração, fiz a última força, aquela que me fez sentir nossa filha chegando.
12/01, 01:07h Finalmente já não havia mais dor, grito ou pensamentos. Ali estávamos nós: eu com a bebê nos braços, Fábio amparando a nós duas. Um grande silêncio na alma e aquele momento eternizado em nossos corações.
Começava ali a aventura chamada Nina.
Data: 12/01/18
Tempo de gestação: 40 semanas e 2 dias
Hora: 01:07 h
Local: Hospital São Luiz
Peso: 3270 kg
Altura: 49 cm
Sem anestesia, sem lacerações
Com dor, com grito, com muito amor e, finalmente, plena!