Outro dia, ao explicar para uma vizinha do meu prédio e para sua personal trainer do que se tratava o trabalho da doula, ouvi o seguinte questionamento: mas este tipo de parto (humanizado) não é para mulheres mais “naturebas”, mais “hippies”?
O parto normal – e humanizado – não é apenas para um grupo de mulheres. Todas as mulheres, sem exceção, merecem um parto respeitoso. Todas merecem privacidade, silêncio, discrição e acolhimento no momento mais especial de suas vidas: a chegada de um filho.
Vejam este caso: uma amiga me contou sobre o nascimento de sua primeira filha, hoje com quatro anos, dizendo que adoraria ter conhecido o trabalho de uma doula naquela época (ela não é natureba nem hippie, é arquiteta e mora em um condomínio de alto padrão na capital paulista). Essa amiga entrou em trabalho de parto, foi para o hospital e, sozinha na maca, numa sala fria, sentindo contrações fortes e ainda sem o marido ao lado, ficou ouvindo dois médicos falando sobre ela – mas não se dirigindo a ela: um dizia que dava para nascer de parto normal e o outro recomendava cesárea. Ninguém segurou sua mão, ninguém disse que ela estava indo bem, ninguém teve um olhar de carinho. Ninguém explicou porque os médicos discordavam do procedimento a ser seguido e muito menos perguntaram a ela qual era seu desejo. Essa mulher se sentiu tão desamparada e com tanta dor que ficou feliz quando os médicos enfim chegaram a um acordo e tomaram a decisão por ela.
A atmosfera do parto é um dos fatores determinantes para a percepção da mulher em relação ao que ela está sentindo. Se a parturiente está sozinha, deitada, numa sala fria e cheia de luzes, com certeza sentirá mais dor. Se ela se sentir observada, também pode sentir mais dor. Quanto mais tensão, mais medo e mais dor. E uma equipe de parto humanizado contribui para a mulher se sentir respeitada e amparada.
Entre as mulheres que conheço e/ou que já atendi, e que desejavam um parto normal humanizado, havia engenheiras, advogadas, publicitárias, musicistas, jornalistas, bancárias, médicas, biólogas, professoras… podiam ser ou não “naturebas”, mas todas tinham algo em comum: estavam em busca de conhecer melhor seu corpo, se preparar para o momento do parto, ter suas decisões respeitadas e acolher seus filhos de uma forma menos “mecanizada” e mais humana.