Antes de engravidar, confesso que nunca tinha pensado em como seria meu parto, nem imaginava que passariam tantas questões e inseguranças em minha cabeça…
Moro em Fernando de Noronha e aqui não temos maternidade – nem é permitido ter parto domiciliar – então uma coisa eu sabia: meu filho iria nascer em São Paulo. Quando contei para todos que estava grávida, um anjo me acolheu e se ofereceu para ser minha doula. Carla Dieguez, a Carlinha, é uma amiga antiga e desde aquele dia me ajudou muito à distância, me amparou, me passou muitas informações e, depois que decidi pelo parto humanizado, me deu todo o apoio que precisei, mesmo que de bem longe, para encontrar o lugar e a equipe de profissionais.
Cheguei em São Paulo com 33 semanas de gestação e fui à primeira consulta com a obstetra que a Carlinha indicou. Tive muita sorte, pois foi amor à primeira vista com a Dra. Luciana Motoki. E um alívio saber que tinha conseguido uma obstetra que respeitaria minhas decisões. Já com 39 semanas conheci a enfermeira Bárbara Grande, que foi em minha casa e me passou uma enorme segurança e experiência. Por fim conheci o pediatra, dr. Ricardo Coutinho, que foi super legal e me disse: fica tranquila que Dra. Luciana me avisará a hora de eu chegar. Ufa! Que alívio! Equipe montada e super experiente em parto natural. Eu e meu marido João já estávamos prontos, ou quase, pois confesso que eu ainda sentia um medo daquela dor absurda que os outros falam, o terror que vemos e ouvimos com as mil intercorrências provocadas pelos próprios médicos cesaristas e que ainda eram reproduzidos por pessoas próximas a mim e minha família. Mas algo dentro de mim me dizia que eu precisava passar por esta experiência emocional e física. Queria sentir meu filho chegando.
Mesmo com todas as informações passadas pela equipe, o que me deixava mais curiosa era: em que momento vou saber que entrei em trabalho de parto? Bom, recebi uma lista de possibilidades: pode ser depois de sair o tampão (uma gosma tipo um corrimento…), ou quando a bolsa estourar, ou quando começarem as contrações… Enfim, eu já estava com tudo na cabeça e preparada para a chegada de Antonio.
Acordei no dia 26/09/15 com uma cólica que começou a aumentar e aumentar. Nesta hora eu sabia que tinha começado, mas nada dos outros sinais… Tomei um banho bem demorado e nada dos sinais… Deitei na cama e já não conseguia ficar deitada, e nada dos sinais… Entrei na banheira e lá me senti melhor. Até então a única pessoa que tinha percebido algo diferente era minha mãe. Meu pai estava jogando xadrez e meu marido trabalhando no computador – e nada de perceberem que eu já estava sentindo dor. Nesta hora me bateu um desespero e pensei: “se esse tampão não saiu e nem a bolsa estourou, por que eu já estou com esta dor toda? Meu Deus, que ideia foi essa deste parto natural?!”
Chamei meu marido e disse: já estou com muita dor, vamos ligar para as meninas. A doula e a parteira chegaram quase juntas lá em casa. Quando a parteira fez o exame de toque para saber como estava o andamento, a surpresa de já estar com 8 cm de dilatação! Fiquei bem tranquila nesta hora, pois sabia que aquela dor tinha fundamento. De lá já fui para a maternidade e quando cheguei tive que passar por uma triagem muito chata. Mil perguntas que me fizeram perder a compostura. “Pra que isso tudo?” Hoje dou risada pois devo ter pagado um mico lá… quase xinguei a mulher da triagem.
Ainda bem que consegui a vaga na sala de parto humanizado, pois lá ficamos por mais 12 horas. Eu não dei uma palavra sequer, me lembrava do parto da cachorra que eu tinha quando éramos crianças lá em Atibaia, a Laika, quieta e concentrada só nela e no filhote. Me comunicava com meu bebê o tempo todo, éramos só nós dois e muito amor em volta com meu marido e a equipe toda.
Senti muito medo na fase expulsiva. Nossa, como foi importante a equipe nessa hora…
Carlinha me acalmava, sorria com os olhos e dizia: que lindo, Tati, tá chegando; Bárbara, mais vigorosa, pegava na minha mão, me fazia refletir e enfrentar todos os medos que me passavam pela cabeça; Dra Luciana, serena, me transmitia muita tranquilidade; meu marido não desgrudou de nós e me senti totalmente protegida para poder fazer o que quisesse. Tentei todas as posições, mas dentro da banheira me aliviava muito.
Quando o pediatra chegou fiquei aliviada, pois sabia que estava perto de nascer. Nesta fase vieram à tona muitos medos e sentimentos profundos que estavam guardados, emoções que não lembro de ter sentido em outra ocasião… A dor já estava em segundo plano! Olhei para o imenso relógio da sala de parto e vi 00:00 hora, e lembro que Dra Lu me disse: eita, Antônio vai nascer no dia que a mamãe quer, 27/09, dia de Cosme e Damião! Só me lembro de ter dado uma risadinha e continuei quieta.
Finamente, já passava das 3:00 da manhã quando pedi para a Dra Lu medir minha dilatação, pois estava bem cansada, e ela disse: Tati, ele está aqui… olha a bolsa saindo… ele vai nascer dentro da bolsa… Nossa! Nessa hora me deu uma felicidade tão grande que bastaram mais 3 ou 4 contrações para nascer Antonio. Depois de 18 horas desde o início do processo ele nasceu!… Eu nem acreditava que tinha conseguido. Naquele momento ouvi o chorinho de Antônio e agradeci!!! Muito emocionada!!! Logo na sequência uma frase que me marcou – “nossa, ele é a cara do pai!” Não sei qual deles falou isso mas acho que até hoje nunca ouvi tantas vezes uma frase só (rsrsrs). Antonio é realmente a cara do pai!
Me senti a mulher mais forte do mundo e realmente preparada para viver todos os desafios da maternidade. Eu me senti uma leoa… Foi lindo!!! O apoio da equipe e principalmente do meu marido e família que respeitaram a minha decisão desde o início foi fundamental para mim.
É uma experiência única e sou muito grata por ter podido passar por isso.