Desde que engravidei do meu primeiro filho tinha o sonho de ter um parto normal. Porém, com 35 semanas de gestação, ao fazer um ultrassom (US), foi detectado que o líquido amniótico estava baixo. Para agravar o Lorenzo estava pélvico, e com 37 semanas e 2 dias o meu filho nasceu de cesárea.
O sonho de um parto natural permanecia, e na minha segunda gestação estava determinada em levar esse sonho adiante. Já na primeira consulta com a obstetra informei minha vontade. Ela iria fazer o parto normal, desde que tudo evoluísse bem.
Assim, comecei a frequentar os grupos de gestantes da Casa Moara. Após assistir o filme “O Renascimento do Parto”, meu marido e eu decidimos contratar uma doula para nos acompanhar, a Carla Dieguez. Outra decisão importante foi o contato com um neonatologista humanizado para assistir o parto. Dessa forma acreditávamos ter toda a equipe necessária para que o meu filho viesse ao mundo da maneira como esperávamos.
Mas parece que aquele filme vivido há pouco mais de dois anos queria se repetir. Acordamos cedo naquela quinta-feira, quatro de junho. Como era feriado, fiquei em casa aguardando o passeio de bicicleta do meu marido e do meu filho. O US estava agendado para a hora do almoço. Ao iniciar o exame, o semblante da médica já sinalizava que algo não estava bem. Procurei manter a calma, afinal apenas o líquido estava reduzido, em sinal de alerta, e todos os demais parâmetros estavam bem. Porém, ao falar com a minha obstetra, o meu chão se abriu. Não havia mais porque esperar, segundo ela: eu já estava com 39s e 3d e o líquido reduzido poderia comprimir o cordão e consequentemente causar sofrimento fetal.
– Mas não há o que fazer? Não podemos induzir o parto? – perguntei.
A médica foi incisiva:
– Podemos até tentar. Mas como você não está em trabalho de parto, a chance de evoluir é mínima.
Eu não conseguia me conformar. Eu precisava ter certeza que aquele era o único caminho, que nada mais poderia ser feito.
Liguei para o neonatologista, Dr Alexandre. De forma ética e profissional me passou o contato de outra obstetra para que eu pudesse ouvir uma segunda opinião. Naquela mesma semana acontecia um simpósio sobre parto humanizado, e a Carla Dieguez, nossa doula, também começou a me ajudar relatando o meu caso a outros profissionais da área. Após ouvir diversas pessoas verifiquei que era possível sim induzir naturalmente meu parto e as chances de sucesso eram enormes.
Consegui com a minha obstetra que repetisse o US na manhã seguinte, assim poderia também ganhar um tempo para analisar todas aquelas informações.
O meu coração me pedia para ouvir todos aqueles profissionais que me encorajavam a tentar o parto desejado. Porém, o José Carlos, meu marido, sendo racional me questionava: “vamos questionar agora o procedimento de sua médica que já te conhece e fez o seu pré-natal e tem todo o seu histórico?” Não queria e não podia estar sozinha nessa decisão. Jamais me perdoaria se algo desse errado.
Após o almoço o meu filho quis brincar no Instituto Butantã. Enquanto o meu marido saiu com ele, eu fiquei ali sentada na grama. Fiz uma oração e naquele momento pedi a Deus a aos anjos meu e do meu filho Téo: se fosse para eu ter o parto desejado que me fossem dados sinais e que eu pudesse identificá-los.
Fomos para casa e no caminho o José Carlos me contou uma coincidência enquanto brincavam no parque. Ele abordou um menino de aproximadamente uns cinco anos perguntando se o Lorenzo poderia dar um chute na sua bola:
– Lorenzo! Eu também me chamo Lorenzo. – e chamou seu irmão. – Téo, vem brincar com a gente.
– Téo! O irmãozinho do Lorenzo que está para chegar também vai se chamar Téo.
E se aproximou uma menininha, a irmãzinha mais nova:
– Quando chega a Betina?
Mais tarde iríamos entender que esse havia sido o grande sinal que tanto tinha pedido.
Já em casa, após conversar com uma das médicas indicadas, perguntei se ela poderia assumir o meu caso. Mais tarde ela me retornou informando sobre sua indisponibilidade, mas que iria me indicar outra médica: BETINA.
Ainda sem perceber o que aquele nome representava, conversei com a Dra Betina, que gentilmente se colocou à disposição e me avaliar no dia seguinte do US.
Na sexta-feira, dia 5, pela manhã refizemos o US e o resultado se repetiu. Liguei para a Dra Betina, que me orientou fazer uma acupuntura para indução do parto, e pediu que ligasse para ela assim que terminasse a sessão.
À tarde, enquanto tentava o contato com a acupunturista, uma grande amiga me ligou. Conversamos rapidamente, mas suas palavras me confortaram.
Ao conseguir falar com a acupunturista descobri que ela estava bem próxima à minha casa. Em 30 min ela chegou e iniciou uma sessão que durou quase 3 horas.
Liguei para Dra Betina, que me informou que passaria em minha casa para conversarmos. As 18:30 ela chegou e quando percebi minha escolha já havia sido tomada. Resolvi com 39s e 4d de gestação trocar de médica.
Ao descolar a bolsa (descolamento de membranas), a Dra Betina me informou que provavelmente eu entraria em trabalho de parto ainda aquela noite. Ao sair de casa ela disse:
– Não sei por que assumi o seu caso. Estou com várias outras gestantes para ganhar a qualquer momento! O seu anjo é forte mesmo.
E assim foi. Poucas horas depois entrei em um longo trabalho de parto. Após 24 horas resolvi tomar anestesia. Eu estava exausta e não sabia quanto tempo mais iria durar aquele processo. Fui bem orientada do que esperar após a anestesia: continuaria sentindo as contrações, mas sem dor. Porém na expulsão eu sentiria a dor.
À 00:30 do dia 07/06 foi aplicada a anestesia, e realmente as dores foram passando. Nesse horário a Dra Betina já tinha retornado de um parto domiciliar que tinha ido fazer. De repente senti uma forte dor e todos estranharam. A Dra Betina correu para me examinar e quando ela me tocou o Téo já estava nascendo.
À 1:27 chegava ao mundo, ainda sob efeito da anestesia, meu Teozinho. Apesar de estar corado e com os batimentos cardíacos esperados, ele não esboçava nenhuma reação. O Dr Alexandre, bem concentrado, tentava me tranquilizar. O Téo permanecia ligado ao cordão umbilical recebendo o oxigênio necessário, que só foi cortado quando parou de pulsar. Aos pouco ele foi chegando e veio para os meus braços, onde ficou por horas, até irmos para o quarto.
Quando estávamos apenas o José Carlos, o Téo e eu no quarto, o meu marido começou a chorar. A pressão tinha sido muito grande, ele teve medo, e aquele choro era um sinal de alívio. Tudo tinha terminado bem.
A escolha certa havia sido tomada.
Agradeço a Deus por ter me dado os sinais que tanto pedi. Agradeço a equipe que me assistiu e que permitiu que o meu Teozinho viesse ao mundo de uma maneira tão respeitosa e amada, bem tranquilo e sereno. No tempo dele. Ao meu marido por ter acreditado e me apoiado na decisão mais difícil da minha vida.
Filho, a vida lhe dá boas vindas. Estaremos sempre por perto para ajudá-lo e encorajá-lo nessa longa caminhada!