Sobre obstetras, doulas e o “empoderamento” feminino

“Meu obstetra, infelizmente, não aceita o acompanhamento de doula.” Essa frase foi dita por uma gestante que me procurou, inicialmente, para ter mais informações sobre meus serviços e valores cobrados. Passados alguns dias após a primeira troca de e-mails, recebi a mensagem acima e fiquei muito triste. Não porque eu não iria acompanhá-la, mas porque ela teria que parir sozinha, e sozinha brigar com um sistema que é muito maior e mais forte que nós.

Minha bolsa rompeu…e agora?

Muitas dúvidas existem quando falamos no rompimento da bolsa das águas, a membrana que envolve o bebê dentro do útero. Em termos estatísticos, em aproximadamente 85% dos casos, a bolsa rompe espontaneamente durante o trabalho de parto; em cerca de 15%, a ruptura da bolsa acontece antes do início do trabalho de parto, ou seja, quando a mulher ainda não está sentindo nada; e raramente o bebê nasce “empelicado”, dentro da bolsa (1%).

Francisco chegou

O Francisco nasceu no dia 03 de setembro, dia do biólogo – o que para mim tem um grande significado já que eu sou bióloga. Naquele dia acordei com uma cólica fraquinha. Como eu tive alguns alarmes falsos não me empolguei muito… Mas algo estava diferente. Eu estava inquieta. Passei a manhã toda andando de um lado para o outro procurando alguma coisa para fazer. Chegou a hora do almoço, meu marido João e meu filho mais velho (João Pedro) vieram almoçar comigo. Eu comi feito um leão que não vê comida há dias. A colicazinha não passava e eu comecei a achar que poderia ser que o Francisco resolvesse nascer naquele dia. Ou melhor, que o bebê resolvesse nascer, porque até aquele momento eu não sabia se era um menino ou uma menina. Escolhi não saber o sexo. Avisei meu marido que era melhor ele trabalhar em casa.

Chegada do Téo

Desde que engravidei do meu primeiro filho tinha o sonho de ter um parto normal. Porém, com 35 semanas de gestação, ao fazer um ultrassom (US), foi detectado que o líquido amniótico estava baixo. Para agravar o Lorenzo estava pélvico, e com 37 semanas e 2 dias o meu filho nasceu de cesárea. O sonho de um parto natural permanecia, e na minha segunda gestação estava determinada em levar esse sonho adiante. Já na primeira consulta com a obstetra informei minha vontade. Ela iria fazer o parto normal, desde que tudo evoluísse bem. Assim, comecei a frequentar os grupos de gestantes da Casa Moara. Após assistir o filme “O Renascimento do Parto”, meu marido e eu decidimos contratar uma doula para nos acompanhar, a Carla Dieguez. Outra decisão importante foi o contato com um neonatologista humanizado para assistir o parto.

Bem-vindo, Bernardo (e a história da doula Carla)

A história do parto do Bernardo teve início há muito tempo, mesmo antes do nascimento da Luisa. Por isso decidi começar este relato contando como veio ao mundo minha primeira filha. Luisa foi concebida de forma planejada e desejada. Engravidei com 35 anos, no segundo mês de tentativa. Minha gestação transcorreu normalmente. Consultas com obstetra e ultrassonografias de rotina, tudo ótimo, exceto pelo fato de que minha bebê estava sentada dentro da minha barriga, o que impossibilitaria – segundo minha visão e informação naquela época – um parto normal. Eu queria muito o parto normal. E, assim como muitas mães cujos relatos preencheram a gestação do Bernardo, eu achava que bastava querer. Pratiquei yoga durante toda a gravidez, fiquei na posição invertida para ajudar a Luisa a virar, coloquei travesseiros debaixo dos quadris antes de dormir.